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Solta o grito!

(foto: reprodução)
A emoção é, para mim, um dos maiores ativos do esporte. Ao lado de cada grande momento esportivo que minha memória guarda, está uma voz emocionada narrando o acontecido. É assim que se eternizam gritos como o “É tetra!”, que se confundem com o fato em si – a bola do Baggio chutada para fora e a comemoração efusiva dos jogadores no mundial de 1994. Assim também com o grito de “Ayrton Senna do Brasil”, seguido da música instrumental ao fundo (o Galvão, aliás, mereceria uma galeria só para ele, tamanhos são os bordões que cunhou em sua grande trajetória como a principal voz do esporte brasileiro, goste-se ou não do homem). Também me recordo com muita facilidade da narração do Luis Roberto para o gol do tri do Flamengo, aos 43 do segundo tempo, em 2001, e a pausa que fez antes de gritar a plenos pulmões “um go...laço de Petkovic”. Para ficar na imprensa regional, Oscar Nora se tornou um mito para mim depois que acompanhei através na sua voz um Voltaço gigante empatar com o Atlético Paranaense em Curitiba e garantir sua passagem para as quartas de final da Copa do Brasil em 2006. Isso para não citar outras dezenas de radialistas que transformam qualquer contra-ataque em um lance épico daqueles em que a bola passa raspando na trave, mesmo que a uns bons dois metros de distância. 
Bom, e porque estou desfiando essas memórias tão coletivas e ao mesmo tempo tão particulares, e transcrevendo-as aqui? Porque este tipo de narração, ultimamente, estava em baixa com a crítica. Alguma filosofia invadiu as redações esportivas e determinou que o bom mesmo são as narrações contidas. O padrão Milton Leite passou a ser exaltado como exemplo de uma narração classuda, elegante e sem histerias. Galvões e seus pares estariam com os dias contados. 
Até gosto do Milton. Aliás, acho ele excelente. Mas sempre pensei que sua forma de narrar era algo meio bossa nova, enquanto Galvão era um pouco mais rock’nroll. Ou, para ficar mais perto de mim, Milton Leite era João Gilberto, enquanto eu gostava de Elza Soares. Do berro, do grito, do exagero, daquela coisa emocional. Enfim, Milton era um pouco blasé demais para me conquistar. Mas, novamente, os críticos e entendidos do assunto já haviam decretado: o futuro está aí (até ouvi dizer que seria ele o próximo número 1 da Globo, depois que Galvão se aposentasse). 
Não há nada que sugira que os entendidos agora pensem diferente, mas confesso que é de um prazer inenarrável ver algo como o André Henning, da brava TV Esporte Interativo, berrando o título mundial de handebol de nossa seleção feminina.Ok, a conquista já é emocionante por si. Mas uma narração vibrante como a dele dá um som épico ao título. Ele chora, xinga, grita, manda a polícia entrar para prender a oponente que derruba a brasileira, diz que o coração não vai aguentar, cita seu cardiologista, faz um show. Um show que não ofusca o que acontece em quadra e não rouba pra ele o protagonismo; mas é uma boa trilha sonora para a conquista. 
Nem todos hão de concordar. Que bom, sinal de que há espaço para Miltons Leites e Andrés Hennings. É muito bonito também o “Senhoras e Senhores, o Fenômeno voltou”, não estou negando isso. Mas ainda defendo o estilo mais emocional de narrar.  
Para mim, vale aquela máxima do Vinícius: os contidos que me desculpem, mas o grito é fundamental. 

Só mais uma coisa – Queria aproveitar e falar rapidamente da TV Esporte Interativo. Que bacana ver um canal como este crescer e ganhar o respeito dos amantes do esporte, a despeito das barreiras comerciais que ainda enfrentam. Atuam quase como que um canal independente. Eu lembro quando começaram – e meu irmão tem o orgulho de dizer que assiste o canal desde antes de existir, pois acompanhou a contagem regressiva que marcou seu lançamento. No início, narravam até partidas de videogame. Hoje estão aí, na luta, transmitindo grandes campeonatos e cumprindo um papel muito importante no cenário da comunicação esportiva. 
Pouco depois do fim da partida que levou as meninas do handebol ao campeonato mundial, e que eles transmitiram com exclusividade, mudei para o “canal campeão” para ver o que estavam transmitindo. No SporTV 1, reprise da final do mundial de clubes entre Bayern e Raja Casablanca; no 2, um torneio nacional de hipismo; no três, uma partida de Rugby. Três canais dedicados exclusivamente ao tema e nenhum deles transmitindo a principal conquista do ano do esporte brasileiro. O tal do canal campeão.  
Como diria Milton... que beleza! 
Texto escrito por Jader Moraes

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