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O 10 e o herdeiro


Papai, eu quero lá”. No lá, papai já foi muitas vezes. Normalmente, costuma deixar os companheiros na cara do lá. Com quatro anos, Enzo já conhece o caminho. “Ah, não vou lá não, se você quiser, vai sozinho”. Enzo foi. 

Times de futebol costumam ser nostálgicos. Jogador que conquista a torcida uma vez, costuma ganhar as chaves do clube. Voltam uma, duas, quantas vezes forem necessárias. Vivem tantos momentos dentro daquele universo que às vezes parece se tornar extensão da própria casa. O Volta Redonda é a casa de Glauber.

Em casa: Enzo já conhece o caminho do campo
Cinco passagens. Diferenças tão grandes quanto os 11 anos que separam o menino franzino que chegou de Barra do Piraí do experiente meia que encaixou o setor ofensivo do treinador Cairo Lima. As mais significativas atendem pelos nomes de Manoela e Enzo. A filha mais velha, de nove anos, mora na terra natal do jogador, a própria Barra do Piraí. O mais novo vive no Voltaço. Claro que a casa do menino não é clube, mas é como se fosse.  

Enzo está em todos os jogos no Raulino de Oliveira. Também nos treinos. Quando o trabalho acaba, começa a diversão do filho de Glauber. Não larga a bola e tem um monte de marmanjos para brincar com ele.O pessoal gosta, é bom quando tem criança, que distrai o ambiente”, ressalta Glauber.

Enzo brinca com o zagueiro Marcelo enquanto Glauber e Rodrigo Paulista se divertem
Para ele, o filhão só traz alegria. Mais do que isso, é combustível: “O mundo do futebol é complicado. É muito trabalho e é boa a presença dele para a gente se lembrar de por quem está correndo”, conta sem se esquecer de Manoela, que também é imprescindível na motivação. 

Numa carreira cheia de idas e vindas, Glauber precisou correr muito. Após o início promissor no Voltaço campeão da Taça Guanabara e vice Carioca, seguiu rumo ao Botafogo. Começou bem, participou de várias partidas no time titular. Fez gol, deu assistência, mas o tempo foi passando e a afirmação não veio. Veio Maceió e o período em que ficou mais longe de casa, quando defendeu o CRB. Na época, levou os pais e a saudade dos amigos. “A gente sente falta das pessoas que torcem por nós. Mas são situações que a gente tem que viver, então acaba aceitando”, lembra.

Glauber teve que aceitar o lado ruim para aproveitar o lado bom do futebol. No retorno ao Rio, foi encostado no Botafogo. Para voltar a jogar, precisou rescindir o contrato e ficar com as mãos abanando. “Não pensei no dinheiro, se tivesse pensado, hoje eu estaria tranquilo, mas pensei em trabalhar. Queria ajudar de alguma maneira”. Ajudou o time que estava acostumado a ajudar. De volta ao clube que o revelou, conquistou a Copa Rio em 2007.

De lá pra cá, virou nômade. Em cinco anos, passou por oito clubes. Futebol mineiro, futebol capixaba, futebol carioca. Glauber rodou pelo Sudeste, mas sempre veio parar onde pretende continuar. O contrato vai até o fim da Copa Rio. Ele sabe que boas atuações – que vem acontecendo – são a chave para uma renovação. “Eu tenho que pensar nesses três meses. Só depende de mim, fazer um bom campeonato e renovar”, confia.

Os motivos para querer ficar são muitos. Hoje Glauber consegue estar no papel invertido do apoio que teve na primeira passagem. À época, Valtinho, Elson e Jonilson foram os conselheiros do meia. Contribuição valiosa que Glauber consegue retribuir, agora para os muitos garotos que fazem parte do elenco do Volta Redonda. “Fico feliz de ajudar a rapaziada e feliz também pelo grande número de jogadores da base no elenco”, afirma sem se esquecer de brincar por conta da diferença na estrutura que o clube tem hoje: “Hoje é mais fácil”.

Além disso, Glauber quer ficar pelo motivo do início da reportagem: está em casa. São quase 200 jogos com a camisa do clube. Camisa que Enzo conhece bem. Como todo pai, o jogador já especulou sobre o futuro do filho. “Já falei para ele: tem que ser diferenciado, na profissão que for. Não adianta querer ser só mais um. A gente sempre tem que somar, independente da carreira que seguir”, afirma. Sem se desgrudar da bola, Enzo faz a alegria do fim de treino do Volta Redonda e, à sua maneira, o menino já começa a somar. “Dá muita força. Família sempre dá. Sempre penso neles para conseguir atingir os objetivos”, garante.







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