Rumo tomado
O vôlei deu o estudo mesmo. E foi pacote completo. Ensino médio e ensino superior. Nos tempos de atleta em Barra do Piraí ganhou bolsa de estudos. Logo depois veio o UniFoa, de Volta Redonda, com outra bolsa e Fadul se formou em Educação Física. Naquele momento, com 23 anos, o sonho de ser atleta já tinha ficado para trás, mas o de ser técnico nascia com força. Aquela força que faz a gente querer absorver tudo, aprender o máximo possível e um ano depois de se formar, enquanto ele já trabalhava como técnico do time infantil de Piraí, veio a Federação Carioca oferecer um curso de treinadores da CBV. Fez isso para alguns treinadores do estado. Foi quando o papel se inverteu e o estudo deu o vôlei. "Aquele curso que eu fiz sem pensar em Superliga, só para aprender mesmo, veio me servir quase 10 anos mais tarde. Muita coincidência. Aliás, nem sei se é coincidência", pondera.
Coincidência, destino, ato e consequência... Chame do que quiser, mas o fato é que a escolha de fazer aquele curso, mesmo que sem maiores pretensões, o colocou onde está hoje, na Superliga, elite do vôlei nacional. Mas, antes, outra longa caminhada. Em 2008 veio a oportunidade do projeto Volta Redonda. De cara, um time semiprofissional que ganhou o Campeonato Carioca. Fadul estava lá como assistente técnico de Cláudio Fonseca. Um ano depois, Liga Nacional (na época, espécie de segunda divisão da Superliga). Terceiro lugar e com ele o convite da CBV para a disputa da Superliga da temporada 2009/2010. Naquela altura, Fadul era assistente de outro profissional, Leonardo de Carvalho, e só poderia continuar exercendo a função se tivesse o tal curso. A CBV faz essa exigência para técnicos e assistentes e a coincidência (ou não) veio a calhar.
Fadul foi assistente no primeiro ano. Com a saída de Leonardo, assumiu sua primeira - e única até agora - equipe profissional. Conquistou o bicampeonato carioca, quatro vezes a Copa Rio, foi o mais jovem treinador da Superliga, e na competição alcançou o maior momento da carreira com a vaga para os playoffs na última temporada. "Não tenho dúvidas de que eu evolui bastante da temporada 2009/2010 pra cá. E não tenho dúvidas que vou continuar evoluindo porque tenho trabalhado e me dedicado muito", diz. Mas isso tudo teve um momento chave quatro anos antes, no início do projeto.
Os estudos proporcionados pelo vôlei garantiam uma vida profissional segura para Fadul. Ele tinha dois empregos públicos, um emprego em um colégio particular, estabilidade financeira e uma esposa em casa. Sabia que seu futuro no esporte profissional dependia de dedicação exclusiva. E foi para a esposa que ele se virou quando decidiu tomar aquela decisão que assombra os mais conservadores: jogar tudo para o alto em busca do sonho.
- É isso que você quer?
- É isso que eu quero.
- Então vamos, estamos juntos nessa. Vamos apertar aqui e ali, mas eu estou com você. Se você acredita, eu acredito também.
"Porra, foi foda", desabafa com os olhos marejados. A emoção vem pelas dificuldades e pela gratidão pela posição tomada pela esposa, Gisele. "A gente passou muito aperto", conta. Nos dois primeiros anos de projeto, o casal esqueceu os passeios de fins de semana que tanto gostavam. A diversão ficou limitada à TV dentro de casa. "Ela comprou uma briga comigo e eu só tenho a agradecer por ela ter acreditado naquele momento", diz com um sorriso no rosto.
Quando o bonde se ajeitava no trilho, outro chacoalhão. Chacoalhão bom, mas que assusta. A chegada de Pedro - primeiro filho do casal - estava anunciada. Com dois anos de aperto na bagagem, o susto veio, mas foi brando, já estavam calejados. Hoje, é a alegria da casa. "Ele está feliz, saudável. Chego em casa, está sempre com sorriso no rosto. Só dá alegrias", comemora com outro sorriso largo.
Os tempos difíceis passaram. Pelo menos fora de quadra. Depois do período de incertezas que ameaçavam a disputa da Superliga no Volta Redonda, Fadul agora tem uma competição dura e um elenco reduzido para enfrentá-la. O tempo de indefinição atrapalhou o planejamento no clube e o time passou a ser visto como azarão no torneio. Sob uma ótica otimista, é oportunidade de evolução. "Se conseguirmos repetir o desempenho do ano passado, mesmo com as dificuldades é lógico que é bom pra mim. O meu prêmio surge quando os atletas vão bem", declara.
Se os atletas forem bem, é provável que mais um capítulo desta história se aproxime do fim. Cada vez mais outras equipes demonstram interesse em Fadul (UFJF e Monte Cristo - que agora é Montes Claros - já o procuraram). Ele sabe da importância de viver outras realidades para continuar evoluindo, mas ainda não era a hora: "A gente tem uma história juntos, não poderia jogar tudo isso pro alto. Só tenho a agradecer o que o Volta Redonda tem me proporcionado".
Aquele menino de duas décadas atrás chegou onde chegou não só por tomar decisões acertadas, pelo apoio de outras pessoas, mas por muita força de vontade. Seguiu estudando, fez mestrado, hoje possui graduação no nível mais alto possível dos cursos da CBV e continuou prestando atenção nas aulas que a vida dá. "Foram muitas dificuldades nesta e na última temporada. Nesses momentos tem que ser forte, não só comigo mesmo, mas para conseguir liderar. Se eu deixar aquilo me abater, todo o trabalho pode se perder", conta, nem percebendo o talento natural para escolher qual rumo tomar.
Grande Fadul. Saudades de vc meu caro. Com certeza vc vai muito longe. Abraços nossos aqui do sul do sul do Brasil.
ResponderExcluirgrande fadulzinho felicidades pra vc e sua família vc merece
ResponderExcluir