O mais indispensável dos 11 jogadores
"Não se
deixe levar. Não pense sem refletir". É assim que Sidney Garambone inicia
a apresentação do provavelmente único livro sobre volantes da literatura
brasileira - os 11 maiores volantes do futebol brasileiro. "O mais indispensável dos 11 jogadores", ele também diz.
Concordo.
O autor também
discute sobre a origem do curioso nome volante. Nome que veio depois de centro
médio, center half e cabeça de área, "tão perto foneticamente do cabeça de
bagre". Uma das explicações para o surgimento do termo é a seguinte:
"Imagine-se
num helicóptero, sobrevoando um jogo de futebol. Sob as balizas, o goleiro. À
frente dele, o lateral-direito, ou ala-direito, os dois zagueiros e o
lateral-esquerdo, ou ala-esquerda. É a base de qualquer time, salvo o gosto de
alguns treinadores, que optam por escalar três zagueiros. Alguns metros
adiante, eis o volante. Responsável pela primeira marcação aos atacantes
adversários, e culpado pela cobertura dos alas, que a cada dia vão-se embora
mais cedo e por mais tempo para o campo inimigo. Como o volante tem que cobrir
um canto, o meio e o outro canto, é fácil imaginar este movimento circular, da
direita para a esquerda, na frente da grande área. Como um volante de
automóvel."
Outra
explicação, mais divertida, culpa a praticidade. Considerando que raramente o
volante anda só, está sempre acompanhado de pelo menos mais um jogador da
posição, as antigas denominações ficariam com o plural prejudicado: center
halfs, cabeças de área. Difíceis de pronunciar, complicariam qualquer crônica.
A posição do
"mais indispensável" ganhou muita importância nos últimos tempos
futebolísticos, mas ainda não acredito que esteja à altura. Sempre exaltei a
força centralizadora do volantão carregador de piano. O melhor que eu já vi foi
Freddy Rincon (valendo todas as posições. Podem bater!) - perdão, Romário, Ronaldos e Messi. Justifico
apenas dizendo que para um time ser bom mesmo, tem que ter um camisa 5 cabra
macho, sagaz de verdade. Lembre aí dos melhores times que seu clube teve. O 5
era ou não era bom?
O Corinthians
vivia uma fase estupenda há anos, com Christian e depois com Ralf. Já o Cruzeiro
eu dizia que não ganharia nada com Leandro Guerreiro. Ele perdeu a vaga de
titular, o time é campeão e está na Libertadores do ano que vem, competição que
o rival Atlético começou a desenhar a conquista com contornos mais fortes
quando acertou com Pierre. Um Edinho em péssima fase afunda o Fluminense. Um Gilberto Silva no auge dá estrutura para o penta em 2002, mas o mesmo Gilberto, com a fibra envelhecida em oito anos, não consegue dar a tal força centralizadora para o hexa. E por aí vai. Vai e vai mesmo.
Não concorda?
"Não se deixe levar. Não pense sem refletir". É claro que não dá para
colocar tudo nas costas de um dos 11, mas se for para colocar, quem tem mais
vocação para aguentar é ele, o 5 (que às vezes nem usa a 5, assim como nem
sempre o goleiro usa a 1).
Ontem, outro
argumento a favor.
Garambone ainda escreve
sobre outra explicação para o surgimento do termo. Ele conta que no fim da
década de 30, início da de 40, um argentino jogou por aqui, bem no estilo
Mancuso. A raça e vigor fizeram do hermano um cara muito falado e assim como
aconteceu com Band-Aid, Post-It e Gillette, Carlos Martin Volante batizou a
posição.
Volante foi
jogador do Flamengo. Se isso é verdade, que o argentino deu origem ao nome, eu
não sei, mas que ontem outro flamenguista engrossou meu argumento, isso
sim.
Com um cão de
guarda de respeito, ninguém faz graça. Antes de falar sobre o Amaral e sobre o
Flamengo de 2013, “não se deixe levar”.
Ricardo Vieira
Ótimo texto!!! Gostei muito.
ResponderExcluir