Fadado ao arrependimento
Primeiro cenário: ele vê, do banco de reservas do Brasil, alguns companheiros da Espanha avançando na Copa. Ele poderia estar lá, titular, virando ídolo do país onde passa o ano todo jogando bola. No dia do título, sem ao menos entrar em campo, eles apenas assiste a comemoração deles, não sem ouvir de algum engraçadinho - e da própria consciência: "devia ter ido".
Segundo cenário: ele é titular, mas precisa se adaptar rápido. Se esforça, mas fica difícil com a torcida toda no seu pé. E essa torcida faz festa. É um baita carnaval. E ele sabe que poderia estar causando toda aquela felicidade. A própria pátria. Aquela que nasceu e que parecia tão distante. Agora está, de vez. Com a força da torcida, ele vê a Taça ficar no Brasil com gol do atacante reserva. Só um toque na bola. Era para ser ele, mas não foi. E a dor piora quando uma porção de engraçadinhos gritam: "não precisamos de você".
Por méritos próprios - não por culpa -, Diego Costa se meteu em uma enrascada. A felicidade do trabalho reconhecido está à sua volta, mas o arrependimento está escondido atrás da árvore, só esperando a vez para atacar. A tristeza vem logo atrás e Diego está numa rua sem saída.
Evidentemente, as possibilidades não se resumem aos dois cenários. Claro, ele pode ter sorte. Pode até fazer a própria sorte e tornar a escolha como a certa. Mas pelo enredo cada vez mais enroscado, é difícil imaginar o felizes para sempre nesse era uma vez.
Era uma vez um menino da cidade de Lagarto, em Sergipe, bom de bola, mas que não estava no lugar certo. O Brasil, o país do futebol, não é o lugar certo para um menino bom de bola? Muitas vezes, não. O Lagartense, time da cidade natal, não é nem a principal força do fraco futebol sergipano. O menino Diego procurou o lugar certo bem longe. E esse longe não foi Rio ou São Paulo, os maiores e mais concorridos centros daqui. Com 16 anos, desembarcou em Portugal.
Longe de casa, em nove anos, Diego refez a casa. Chegou menino em Portugal, mas antes dos 20 já estava na Espanha. Não deixou de ser de Lagarto, tanto que fizeram uma carreata lá quando ele foi convocado (para a seleção do Brasil). Mas, antes do reconhecimento brasileiro, ele teve que se virar. Ele, ao lado dos espanhóis e pelos espanhóis. Com gols o jogador conseguiu a dupla nacionalidade. Não a comprovada em documentos, mas a da vida.
Diego foi feliz no Brasil. Diego é feliz na Espanha. Em seu coração, aposto existir gratidão pelas duas camisas. Também aposto que os gols - por onde quer que eles aconteçam - terão comemorações sinceras.
Só que Diego vai precisar decidir com ainda mais precisão do que tem feito com a camisa do Atlético de Madri para minimizar o estrago. E vai precisar decidir logo. É bom não inventar de tirar o goleiro, tocar de cobertura ou chutar o vento. É melhor fazer de forma simples e seca.
A demora já causou embaraço por aqui quando um inocente Felipão falou mais do que devia. A Espanha também engoliu mal o papo de que Diego volta para sua querida Lagarto quando encerrar a carreira. Ou seja, já deu para entender que é como disputa de avós, qualquer carinho em uma, enciúma a outra.
Portanto é melhor que Diego não faça drama. O drama está feito.
Convenhamos que qualquer um iria querer ser disputado pelas duas maiores favoritas para a Copa; o difícil vai ser engolir o arrependimento.
Ricardo Vieira
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