Vamos voltar a falar de futebol?
Terreno muitas vezes desrespeitoso, tantas vezes machista, baseado em preconceitos e sem graça em várias oportunidades. Por outro lado ainda é combustível para a rivalidade, ainda anima o cafézinho de segunda. Na maioria, existe como forma de humor e, vez ou outra consegue divertir. É entretenimento de mesa de bar. E deveria ficar por lá.
Deveria ficar por lá, onde um pensamento idiota gera no máximo alguns segundos de silêncio constrangedor antes de não aparecer novamente.
Vá lá que o torcedor fique puto com a tal foto. Azar o dele. Agora sair de casa, fazer uma faixinha e ir lá no clube pra escancarar a própria intolerância é de uma estupidez danada.
Um dos efeitos colaterais disso vem na forma de um manifestante virtual que decide arregaçar as mangas cheio de justiça social e publica no facebook a insatisfação. Pronto, de alma lavada ele já criticou os malvados corintianos e colocou álcool na fogueira. Em segundos tem um monte de amigos fazendo coro. É quando aquela estupidez volta. "De matar torcedor adversário eles não têm vergonha". Que comparação, hein? Saiba que sua opinião é tão infeliz e intolerante quanto a do pessoal da faixa.
Mas quando a gente pensa que daí não passa, vem a mídia e cutuca o cocô. O fedor vem na forma de enquetes: "Emerson deveria se retratar?". Caramba, isso é coisa que se pergunte? Mas não para. Pipocam fotos do atacante com uma porção de gostosas como se quisessem afirmar que foi só uma brincadeira, como quem diz: "não é nada disso que você está pensando". Isso quando nem mesmo ele parece se importar.
A gozação é inevitável, mas que fique por aí. Quando tentam justificar algo que não precisa de justificativa fazem um estrago das arábias. Se é pra fazer assim e deixar esse assunto virar o tema principal, é melhor voltar a falar só de futebol mesmo.
Em tempo...
Emerson Sheik é artigo raro. Poderia dizer que é raro por ser um atacante de decisão, que não se omite em campo e cresce quando é preciso. Também poderia dizer que é raro por ser ídolo das duas maiores torcidas do país. Não seria asneira lembrar que é raro por ter feito sucesso por aqui depois dos trinta. Mas o que o torna raro mais do que tudo é a autenticidade.
No futebol dos empresários, assessores, grandes patrocínios e muita presepada, personagens como Túlio, Paulo Nunes, Vampeta, Renato Gaúcho não têm vez. E estou falando do cara divertido, que pode até fazer merda, mas fica lá para dar a cara a tapa. Aquele personagem que rende matérias fantásticas não só pela história de superação, mas por entreter, polemizar.
Sheik parece que chegou atrasado naquela última geração. Hoje em dia eles saem direto de fábrica, só falta vir o número de série. Emerson é artesanal. Vem com qualidades e defeitos diferentes dos demais.
É autêntico a ponto de cantar o hino do time que torce, mesmo jogando no rival. Paga por isso. Tanto que foi mandado embora. Caiu no Corinthians onde foi homem o suficiente para conter os ânimos na hora certa e acelerá-los quando devia para conquistar uma Libertadores como herói.
Desta vez, decidiu publicar a tal foto. Fez na internet o que deu na telha. Não é isso que a gente vê aos montes? Mas, claro, fez o que quis e, sendo uma pessoa pública, provocou o maremoto.
As ondas que vem de todos os lados parecem se agitar pela possibilidade de um atacante reconhecido ser gay.
Não me incomodaria ter um ídolo gay. Me incomodaria não ter uma Libertadores. O corintiano tem, com ou sem selinho.
Ricardo Vieira
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